11 setembro, 2007

WASSERSTRASENKREUZ - OU QUASE ISSO


Tenho um amigo francês, lá de búzios, que comunga da mesma idéia que eu: uma boa guerrinha, às vezes, faz falta.
Jean Pierre passa os dias em seu elegante restaurante à beira mar , lá pros lados da Ferradura, entre ótimos vinhos e pratos chiques. Há uns quatro anos, meu primeiro contato com ele foi muito legal, tratei-o como trato meus amigos do Porco's Bar do Mendanha, onde o MENU só tem duas linhas:
porco.....................................................7,00
cerveja....................................................2,50
Mostrou-me a carta de vinhos, que nem olhei, e fui logo implorando:
-Meu querido , faça uma loucura por mim, traga uma geladinha e um torresmo pro seu amigo. Moro longe , vim de trem, não falo inglês, mas tô com dinheiro. Ontem ganhei no bicho. Cerquei o peru e dei uma porrada no veado, na cabeça! - non ter torresmm, mas o camarrão flambado está especial, disse o cascudo, sem entender nada do que eu tinha falado.Então manda no capricho, com cabeça e tudo. O cara , que não é boiola, trouxe o pedido já rindo, aí eu perguntei: és importado de onde? -França. Fugiu de lá porque? Tá devendo? Claro , todo mundo mundo quer ir para a Europa e EUA e o cara vem pracá. Deve ser canal 7 , pensei. Canal 7 é band, bandido, tá? Bem , estrangeiro comigo passa sufoco, pergunto tudo mesmo, história , geografia, política , conhecimentos gerais, e tudo mais.
Entre mil cervejas, falamos muito da Segunda Guerra, do que os pais dele tinham passado e sobre a mentalidade dos povos que viveram guerras. A França, campeã mundial de envolvimento em toda sorte de guerras, até o vietnã foi ela que começou, é o meu foco predileto. Oportunidade ímpar para mim! Fiquei surpreso ao saber que as novas gerações não carregam qualquer sentimento em relação ao passado não tão distante. Seus avós, contou-me o gringo, diziam: essas crianças não querem comer; eles precisam é de uma boa guerra para dar valor às coisas; precisam dividir uma laranja para cinco.
Hoje não sei se continuo pensando exatamente assim sobre as guerras, eu as relacionava ao denvolvimento econômico dos países e, principalmente, `a mentalidade dos povos. Hoje fico só com a mentalidade, do contrário, o Paquistão, por exemplo, seria um ícone do desenvolvimento.Agora escrevo no melhor estilo TENTE ADIVINHAR ONDE O TÍTULO SE ENCAIXA NO TEXTO.
Eu vi uma fotografia dessa wasserstrassenkreuz (cruzamento de hidrovias), perdoe-me quem não domina o Alemão, sobre o rio Elba, em Magdeburg-Alemanha, e pensei no papo com o francês. Como pode ser tão desenvolvido um país que no século passado foi destruído por duas vezes, que até 1989 tinha um muro a dividi-lo, que teve Hitler no poder e ficou à mercê dos vitoriosos? Nós não conseguimos tapar os buracos de nossas estradas e os caras fazem wassers-sei-lá-das-quantas. Esses europeus certamente tem uma pilha de defeitos, mas bundões como nós eles não são! E não é culpa dos políticos. Os políticos somos nós, eles não vêm de Marte. A culpa é da nossa tolerância, do nosso egoísmo, da nossa passividade e do nosso se não é meu, dane-se. É cultura, é sangue , é amor , é o reconstruir, é o não deixar destruir, é a vergonha na cara...é tudo o que nos falta.
O Pierre!! Desce uma caipirrrinha à parisiense que hoje eu tô azedo!

5 comentários:

Unknown disse...

Caramba, nunca tinha ouvido falar de um cruzamento de hidrovias. Casa6 também é cultura!!! Impressionante, a foto, e o texto também... deve ter sido muito engraçado o seu primeiro contato com o francês. Mas eu já sei porque gringo com vc se ferra, porque vc tem que se abastecer de "causos", pra matar nossa fome de textos maravilhosos como esse. Genial!

Kath disse...

Concordo com a Maria.
Mas, tendo em vista tudo que falou sobre os gringos, me pergunto se uma guerra nos ajudaria. Se na atual situação nós mantemos a filosofia do "farinha pouca meu pirão primeiro", imagina se somos capazes de dividir uma laranja, ao meio. O que separa eles lá de nós daqui não é smoente o oceano, é a ciência de que cabe a cada um, de que a sociedade é fruto de coletividade. Enquanto a gente aqui só sabe dizer que é tudo culpa dos políticos. E você disse tudo quem são esses.

Zumbi disse...

Lendo seu texto lembro-me de um antigo professor de história...
Por culpa dele,(digo culpa, pois não sei se é bom ou ruim) estou onde estou, pois me ajudou a acertar muitas questões na UERJ.

Esse professor não nos falava da matéria simplesmente, ele fazia parte da história, era como se ele tivesse contando um fato da vida dele, ele se emocionava e nos emocionava...
É isso que sinto nos seus textos!

Licenciatura em História!
É meu voto para o senhor!

Anônimo disse...

Muniz, eu jah ficava impressionado com a sua habilidade com as palavras pelos poucos comentarios que fez no BLHOG. Fico boquiaberto toda vez que entro no seu blogg e leio seus textos. O que mais me impressiona eh que enquanto vou lendo, fico "vendo" sua cara como se tivesse nos contando a estoria pessoalmente. Tenho a mesma sensacao as vezes que leio os textos do Jabor ( desculpe a comparacao, vc eh muuuito melhor que ele ). Esta estoria do frances esta fantastica!!! Vc deu aquela piscada qdo pediu a caipirinha e depois colocou as maos na barriga??? Um grande abraco - VInicius

Anônimo disse...

Adorei seu artigo. Sim é um artigo inteligente e bem humorado.